“Aparentemente, de vez em quando os adultos têm tempo de sentar e
contemplar o desastre que é a vida deles. Então se lamentam sem compreender e,
como moscas que sempre batem na mesma vidraça, se agitam, sofrem, definham, se
deprimem e se interrogam sobre a engrenagem que os levou ali aonde não queriam
ir. Os mais inteligentes até transformam isso numa religião: ah, a desprezível
vacuidade da existência burguesa! Há cínicos desse gênero que jantam à mesa do
papai: “Que fim levaram nossos sonhos da juventude?”, perguntam com ar
desiludido e satisfeito. “Desfizeram-se, e a vida é uma bandida.” Detesto essa
falsa lucidez da maturidade. O fato é que são como os outros, são crianças que
não entendem o que lhes aconteceu e bancam os durões quando na verdade têm
vontade de chorar.”
Muriel Barbery em A Elegância
do Ouriço
2 comentários:
...realmente profundo...
Me vi.
Abraço meu, amiguinha.
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