Luísa, na
cama, tinha lido, relido o bilhete de Basílio: “Não pudera – escrevia ele —
estar mais tempo sem lhe dizer que a adorava. Mal dormira! Erguera-se de manhã
muito cedo para lhe jurar que estava louco, e que punha a sua vida aos pés
dela”. Compusera aquela prosa na véspera, no Grêmio, às três horas, depois de
alguns robbers de whist, um bife, dois copos de cerveja e uma leitura preguiçosa
da Ilustração. E terminava, exclamando: — “Que outros desejem a fortuna, a
glória, as honras, eu desejo a ti! Só a ti, minha pomba, porque tu és o único
laço que me prende à vida, e se amanhã perdesse o teu amor, juro-te que punha
um termo, com uma boa bala, a esta existência inútil!” — Pedira mais cerveja, e
levara a carta para a fechar em casa, num envelope com o seu monograma, porque
sempre fazia mais efeito”.
E Luísa tinha suspirado, tinha
beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas
sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas,
como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de
estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência
superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada
passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações.
Eça de
Queiroz - O Primo Basílio
Um comentário:
“Que outros desejem a fortuna, a glória, as honras, eu desejo a ti! Só a ti, minha pomba, porque tu és o único laço que me prende à vida, e se amanhã perdesse o teu amor, juro-te que punha um termo, com uma boa bala, a esta existência inútil!”
Declarações assim, tão belas, são cada vez mais raras hein..
Abraços
Postar um comentário